Na foto, vemos seis estudantes testando o projeto desenvolvido pelo grupo.

Projeto didático e suas principais características

Quando os alunos “aprendem a aprender”, eles desenvolvem maior autonomia intelectual, novas habilidades e competências relacionadas ao trabalho cooperativo e à capacidade de fazer escolhas e tomar decisões.

Por Maristela Sarmento em ago 06, 2020

Sabemos que os processos de aprendizagem não são plenamente controláveis, pois são internos aos sujeitos. Sabemos também que as aprendizagens significativas ocorrem quase sempre a partir dos esforços dos nossos alunos para resolver um problema. Sabemos ainda que cabe ao professor criar intencionalmente situações que tornem as aprendizagens possíveis. Sabemos, por fim, que a fragmentação dos conteúdos não corrobora com as aprendizagens dos nossos alunos.

Com essas premissas que hoje permeiam o universo de reflexão de vocês, professores, os projetos didáticos, como uma modalidade organizativa dos conteúdos, vêm ganhando destaque nas ações educativas. Muitas vezes visto como uma novidade e/ou como o salvador dos males que acometem as estratégias de ensino, trabalhar por meio de projetos didáticos não é coisa nova. Dewey, em 1896, foi o percussor dessa discussão e teve inúmeros seguidores ao longo do tempo. Mesmo que há anos o trabalho com projetos didáticos venha sendo desenvolvido em nossas salas de aula e nossos resultados educacionais continuem não alcançando os indicadores almejados, trabalhar com essa modalidade é, sem dúvida, um forte aliado das práticas docentes comprometidas com a aprendizagem dos alunos.

Quando bem desenvolvido, o trabalho por meio de projetos didáticos confere significados especiais às atividades curriculares, uma vez que proporciona condições adequadas para que os alunos aprendam não apenas os conteúdos curriculares. Eles aprendem a aprender, desenvolvem maior autonomia intelectual, bem como habilidades e competências relacionadas ao trabalho cooperativo e à capacidade de fazer escolhas e tomar decisões. Além disso, projetos didáticos, se bem estruturados, superam a fragmentação dos conteúdos, o que acaba por contribuir, sobremaneira, com a aprendizagem.

Mas, ao final, o que é um projeto didático, quais as principais características? Quais os cuidados que devemos ter ao trabalhar com essa modalidade organizativa?

Vamos, mesmo que brevemente, ampliar essa discussão e propor outras perguntas para que você, professor, intensifique ainda mais a sua prática e dê maior densidade ao seu trabalho com projetos didáticos.

Para começar, precisamos ter a clareza de que a principal característica de um projeto didático é ter um propósito transparente e ter seu desenvolvimento desembocando na elaboração de algum produto tangível.

Mas isso não basta! Para que essa modalidade alcance seus objetivos, é necessário que o projeto esteja inserido dentro do planejamento pedagógico do professor como uma ação educativa. Perguntas, como as relacionadas a seguir, devem pautar o planejamento dos professores na hora de organizar o projeto didático:

  • O que será aprendido com esse projeto?
  • Por que deve ser aprendido?
  • Como será aprendido?
  • Como serão avaliadas as aprendizagens?

Projetos didáticos, se bem estruturados, superam a fragmentação dos conteúdos, o que acaba por contribuir, sobremaneira, com a aprendizagem.

Sem responder a essas perguntas, um projeto didático, certamente, servirá para trabalhar determinados temas, mas, muitas vezes, os alunos não conseguirão entender quais aprendizagens estavam em jogo.

Há outros pontos que precisam ser pensados e indagados, para que os projetos didáticos cumpram seus propósitos. Por sair da forma de organização das ações educativas mais tradicionais – com o uso, quase predominante, da lousa e do giz –, os professores precisam antecipar algumas questões fundamentais:

Como definir com os alunos um bom problema de pesquisa a ser averiguado por meio de projetos didáticos? Um caminho possível é partir de dados da realidade dos alunos que, em consonância com os conteúdos curriculares, deem sentido a uma proposta de pesquisa. Para tanto, é necessário começar dos conhecimentos prévios dos alunos sobre o tema; averiguar por meio de pesquisas, usando diferentes recursos, questões relacionadas à temática; verificar se o tema é relevante para a comunidade escolar e/ou do entorno. Um dado importante a ser considerado é que os alunos devem, desde o início, fazer parte do processo de escolha/definição do tema/problema a ser tratado em um projeto didático.

O que é necessário considerar no planejamento do projeto didático? A primeira preocupação que se deve ter é se é factível desenvolver esse projeto no tempo e espaço disponíveis. Além disso, verificar quais recursos são necessários – sejam eles físicos ou humanos – é outro fator fundamental para o sucesso. Há outras questões não menos importantes: Como desenvolver um encadeamento significativo das etapas do projeto, em complexidade crescente? Como favorecer a interação entre os alunos? Como organizar a dinâmica do trabalho coletivo com os alunos? Como envolver os gestores das escolas, pais, comunidade? Não se deve esquecer que um trabalho colaborativo, de parceria, ocorre de forma mais consistente quando os envolvidos são chamados desde o início do processo e têm claro os objetivos e propósitos de sua participação. Há aqui um ponto de requer atenção: é muito rico o desenvolvimento de projetos em parceria com outras áreas de conhecimento, mas isso deve acontecer se os conhecimentos de outras áreas estiverem, de fato, vinculados ao tema do projeto e, portanto, façam sentido para a resolução do problema colocado, contribuindo com a aprendizagem das crianças.

Como monitorar o trabalho dos alunos? Uma consequência interessante de se trabalhar com essa modalidade é que os alunos se tornam protagonistas do seu processo de aprendizagem. Se bem envolvidos, eles se comprometem e “compram” a ideia. No processo de monitoramento, mais do que averiguar se estão fazendo, é como estão fazendo; se têm dúvidas; se há caminhos que precisam ser corrigidos; se estão cumprindo os prazos estabelecidos e se não se perderam do objetivo principal.

Como estabelecer o produto final? Os erros mais comuns em execução de projetos são certo descaso pelo processo de aprendizagem, com um excessivo cuidado em relação à chamada culminância. A proposta deve ser não somente a de fazer algo bonito, mas conduzir uma série de atividades que resultem em algo concreto e que deem sentido à aprendizagem.

Como avaliar as aprendizagens? Trabalhar de forma não tradicional e avaliar de forma tradicional é uma incoerência que não se deve cometer. Há diferentes formas de se avaliar a aprendizagem dos alunos quando eles trabalham com essa modalidade organizativa – avaliação no processo, portfólio, autoavaliação, discussão sobre o que fizeram e as correlações com os conteúdos curriculares, construção da curva de crescimento do que sabiam sobre o tema e o que sabem agora. Enfim, o professor deve escolher, a partir de sua realidade, a melhor opção. Só não pode deixar de avaliar, até mesmo porque o resultado da avaliação é o resultado do cumprimento ou não de suas intencionalidades didáticas ao propor o projeto.

Trabalhar com projetos é um grande desafio. São mudanças das práticas educacionais – exigem arranjos diferentes na organização dos tempos e espaços, na gestão dos grupos, na correlação do trabalho com os conteúdos curriculares, na forma de avaliar etc. Mas é uma maneira efetiva de conectar a aprendizagem com o interesse dos alunos pelos problemas da realidade, do seu entorno, do seu campo de interesse e de vivência. E, portanto, é uma forma de conectá-los com a aprendizagem.

Experimente, professor!!!

Artigo originalmente publicado na edição 2018 da Revista do Prêmio Shell de Educação Científica.

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